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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Você finge que é verdade, eu finjo que acredito




Como é difícil manter um blog! Quando criei o Cabeça de Vento não imaginei que a correria do cotidiano me faria ficar tanto tempo sem criar um mísero post. Desde o último, já se vão mais de três meses, tempo gasto com o turbilhão de atividades que acometem os professores no último trimestre do ano. Mas tem nada não, estou de volta e não quero mais perder tempo. E para abrir o ano no blog, vale a pena fazer uma modesta análise sobre aquele que nos acomete todo verão a 10 anos: o Big Brother Brasil, o amado e odiado mas nunca despercebido BBB.
Hoje cedo li um artigo de Hélio Schwartsman na Folha.com sobre a relação entre o BBB e a "psicologia da mentira". Schartsman, se utilizando da teoria criada por Robert Feldman para explicar o fascínio exercido pelos reality shows, afirma que o BBB nos vende a ideia de que o programa oferece uma dose de "realidade" na televisão, ao passo que a atração nada mais é do que uma manipulação da realidade segundo critérios predeterminados pela sua produção, desde o confinamento até a edição do que vai ao ar. Ou seja, é mentira embalada como verdade. O argumento de Schartsman-Feldman é pertinente, mas antes dessa formulação feita por eles, o público já havia captado a essência da coisa e percebido a dita psicologia da mentira há tempos. O sucesso dos Big Brother no Brasil se deve ao único e exclusivo fato de que o grosso da população brasileira não quer ver "realidade", pelo menos não na sua forma cotidiana, a qual todos nós estamos habituados. O que se busca no BBB são os mesmos elementos que compõem qualquer peça de dramaturgia: romances, paixão, sexo, traições, intrigas, competitividade e algumas pitadas de sentimentos nobres. Trocando em miúdos, o fascínio exercido por esta atração está no fato de que queremos ver uma novela encenada por atores não profissionais, onde o roteiro está apenas esboçado para dar espaço a algum improviso e a possibilidade do insperado, mesmo que tudo isso seja editado no final.
Mas há ainda um elemento mais sedutor. Em uma novela tradicional o autor pode até alterar a estrutura da obra em virtude da reprovação do público expresso por baixas audiências, mas ainda fica-se à mercê dos caprichos dos dramaturgos. Já no BBB o público influencia mais diretamente os acontecimentos, através da exclusão ou da manutenção de algum participante. Vejamos o exemplo do último paredão do programa, disputado entre Rodrigão e Cristiano. O primeiro, figura meio apagada, acabou por ficar no programa. A provável razão? Na última semana ele engatou um romance chove-não-molha com a participante Adriana, que tem namorado fora da casa e que não sabe se cede ou não aos encantos do modelo. E o público sequioso pelo desfecho da situação, manteve o rapaz na casa só pra ver se o affair vai mesmo se concretizar, com a moça traindo o namorado. Outro caso foi o de Maurício, que nos primeiros dias do programa protagonizou um namorico com Maria. Com a saída de Maurício, Maria passou a interessar-se pelo médico Wesley e ficar a dúvida: trair ou não trair, that's the question. Resultado: Maurício, confinado na casa de vidro, voltou para o programa por obra e graça do voto do público, que certamente queria ver o circo pegar fogo entre ele, Maria e Wesley. Nada mais novelão do que triângulo amoroso, com todas as suas possíveis consequências nefastas.
Em suma, para além de todas as análises sociológicas, antropológicas e psicológicas, fica nítida a conclusão de que o BBB é uma enganação de ambas as partes: a Globo finge que é realidade e ganha rios de dinheiro. O público finge que acredita e se diverte horrores. No fim das contas, tudo é uma grande babaquice. Mas quem resiste?