Ontem, com a desclassificação do Brasil na Copa América, experimentei a sensação de ver a seleção perder ante o meu mais absoluto cinismo, algo que é raríssimo, pois eu levo futebol a sério e nunca torço sem doses generosas de nervosismo, palpitação, raiva e palavrões. Mas ontem eu estava meio laissez-faire, meio blasè, meio "que se dane a seleção". E esse meu cinismo tem uma origem clara: eu nunca botei fé nesse time que foi para a Argentina. O time do Brasil é formado por projetos de jogadores - com exceção de Lúcio, Julio Cesar, Maicon e Daniel Alves, caras que merecem a camisa da seleção e que coincidentemente estiveram na última e malfadada Copa do Mundo. Neymar, Ganso, Pato e Lucas são jogadores que nem saíram direito dos cueiros e já são tratados como craques consumados pela imprensa nacional. E aí está o grande problema do futebol brasileiro, segundo meu avô: a imprensa endeusaj ogadores que, apesar de serem bons de bola, não passam disso mesmo, bons de bola. Craque é outra coisa, algo muito mais além de ter habilidade, chutar, passar e cabecear bem. Craque tem que ser decisivo em momentos agudos, quando o time mais precisa. Craque tem que mostrar tenacidade e garra contra adversários duros, não contra times fuleiros do interior do Brasil ou dos cafundós da América Latina. Craque é Messi (o do Barcelona, não o da seleção), como foram craques Pelé, Maradona, Zidane, Ronaldo, Romário, Garrincha e Rivelino, não esses moleques que parecem ter na seleção brasileira apenas uma vitrine onde possam desfilar seu futebol afetado para valorizar seus passes no mercado internacional. Em suma, no time brasileiro faltam mesmo jogadores, homens com vontade de vencer e não apenas de aparecer. Em outros termos, precisamos de mais Messi e menos Cristiano Ronaldo. Agora, vários comentaristas esportivos das diversas mídias vão dar suas versões para a derrota do Brasil e certamente vão esquecer que Mano Menezes levou para a Copa América todos os jogadores que eram cobrados pela própria imprensa, o que me lembra o comentário de Galvão Bueno pedindo menos pressão sobre os "meninos do Brasil, que ainda não estão formados", pressão essa que ele próprio ajudou a criar ao superestimar alguns jogadores. Não me parece justo que a mídia encha a bola de alguns caras, os transformando em solucionadores dos problemas do time brasileiro e depois peça calma ao torcedor. Me faça uma garapa! Ganhando o que eles ganham, o mínimo que se exige é empenho e dedicação, pois eles só fazem isso da vida e tem que fazer bem feito. Depois dessa campanha ridícula na Copa América quase deu saudade de Dunga. Quase.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Você finge que é verdade, eu finjo que acredito
Como é difícil manter um blog! Quando criei o Cabeça de Vento não imaginei que a correria do cotidiano me faria ficar tanto tempo sem criar um mísero post. Desde o último, já se vão mais de três meses, tempo gasto com o turbilhão de atividades que acometem os professores no último trimestre do ano. Mas tem nada não, estou de volta e não quero mais perder tempo. E para abrir o ano no blog, vale a pena fazer uma modesta análise sobre aquele que nos acomete todo verão a 10 anos: o Big Brother Brasil, o amado e odiado mas nunca despercebido BBB.
Hoje cedo li um artigo de Hélio Schwartsman na Folha.com sobre a relação entre o BBB e a "psicologia da mentira". Schartsman, se utilizando da teoria criada por Robert Feldman para explicar o fascínio exercido pelos reality shows, afirma que o BBB nos vende a ideia de que o programa oferece uma dose de "realidade" na televisão, ao passo que a atração nada mais é do que uma manipulação da realidade segundo critérios predeterminados pela sua produção, desde o confinamento até a edição do que vai ao ar. Ou seja, é mentira embalada como verdade. O argumento de Schartsman-Feldman é pertinente, mas antes dessa formulação feita por eles, o público já havia captado a essência da coisa e percebido a dita psicologia da mentira há tempos. O sucesso dos Big Brother no Brasil se deve ao único e exclusivo fato de que o grosso da população brasileira não quer ver "realidade", pelo menos não na sua forma cotidiana, a qual todos nós estamos habituados. O que se busca no BBB são os mesmos elementos que compõem qualquer peça de dramaturgia: romances, paixão, sexo, traições, intrigas, competitividade e algumas pitadas de sentimentos nobres. Trocando em miúdos, o fascínio exercido por esta atração está no fato de que queremos ver uma novela encenada por atores não profissionais, onde o roteiro está apenas esboçado para dar espaço a algum improviso e a possibilidade do insperado, mesmo que tudo isso seja editado no final.
Mas há ainda um elemento mais sedutor. Em uma novela tradicional o autor pode até alterar a estrutura da obra em virtude da reprovação do público expresso por baixas audiências, mas ainda fica-se à mercê dos caprichos dos dramaturgos. Já no BBB o público influencia mais diretamente os acontecimentos, através da exclusão ou da manutenção de algum participante. Vejamos o exemplo do último paredão do programa, disputado entre Rodrigão e Cristiano. O primeiro, figura meio apagada, acabou por ficar no programa. A provável razão? Na última semana ele engatou um romance chove-não-molha com a participante Adriana, que tem namorado fora da casa e que não sabe se cede ou não aos encantos do modelo. E o público sequioso pelo desfecho da situação, manteve o rapaz na casa só pra ver se o affair vai mesmo se concretizar, com a moça traindo o namorado. Outro caso foi o de Maurício, que nos primeiros dias do programa protagonizou um namorico com Maria. Com a saída de Maurício, Maria passou a interessar-se pelo médico Wesley e ficar a dúvida: trair ou não trair, that's the question. Resultado: Maurício, confinado na casa de vidro, voltou para o programa por obra e graça do voto do público, que certamente queria ver o circo pegar fogo entre ele, Maria e Wesley. Nada mais novelão do que triângulo amoroso, com todas as suas possíveis consequências nefastas.
Em suma, para além de todas as análises sociológicas, antropológicas e psicológicas, fica nítida a conclusão de que o BBB é uma enganação de ambas as partes: a Globo finge que é realidade e ganha rios de dinheiro. O público finge que acredita e se diverte horrores. No fim das contas, tudo é uma grande babaquice. Mas quem resiste?
Mas há ainda um elemento mais sedutor. Em uma novela tradicional o autor pode até alterar a estrutura da obra em virtude da reprovação do público expresso por baixas audiências, mas ainda fica-se à mercê dos caprichos dos dramaturgos. Já no BBB o público influencia mais diretamente os acontecimentos, através da exclusão ou da manutenção de algum participante. Vejamos o exemplo do último paredão do programa, disputado entre Rodrigão e Cristiano. O primeiro, figura meio apagada, acabou por ficar no programa. A provável razão? Na última semana ele engatou um romance chove-não-molha com a participante Adriana, que tem namorado fora da casa e que não sabe se cede ou não aos encantos do modelo. E o público sequioso pelo desfecho da situação, manteve o rapaz na casa só pra ver se o affair vai mesmo se concretizar, com a moça traindo o namorado. Outro caso foi o de Maurício, que nos primeiros dias do programa protagonizou um namorico com Maria. Com a saída de Maurício, Maria passou a interessar-se pelo médico Wesley e ficar a dúvida: trair ou não trair, that's the question. Resultado: Maurício, confinado na casa de vidro, voltou para o programa por obra e graça do voto do público, que certamente queria ver o circo pegar fogo entre ele, Maria e Wesley. Nada mais novelão do que triângulo amoroso, com todas as suas possíveis consequências nefastas.
Em suma, para além de todas as análises sociológicas, antropológicas e psicológicas, fica nítida a conclusão de que o BBB é uma enganação de ambas as partes: a Globo finge que é realidade e ganha rios de dinheiro. O público finge que acredita e se diverte horrores. No fim das contas, tudo é uma grande babaquice. Mas quem resiste?
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