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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Senta que o leão é manso...



Ontem a noite me postei por duas horas em frente a tv para ver a final da Copa do Brasil, entre Vitória e Santos. Como bom e fiel tricolor, não torci para o Vitória, mas tampouco torci contra. Não me prestei a esse papel pelo simples fato de que o Santos é um time infinitamente superior ao escrete baiano e, somente através de um desses acontecimentos estrambóticos que de vez em quando assolam o esporte e provocam zebras inimagináveis, o Vitória conseguiria tirar o título dos Meninos da Vila. E deu no que deu: vicetória.
Não quero aporrinhar os rubronegros - e nem precisa, já que os fatos são soberanos -, apenas lembrar algo sobejamente conhecido, mas que nesses momentos precisa ser dito com todas as letras: o Bahia é o único time baiano a ter em seu currículo um título nacional!!! Um não, dois. Podemos estar decadentes, amargando uma estação no inferno, comendo o pão que Maracajá amassou, mas a história nos é favorável e as estrelas ninguém vai arrancar do escudo. Por isso o grito jamais cessará:

BORA BAÊA, MINHA PORRA!!!!!!!!

"Seu" Toninho


Todo mundo tem um ídolo. Ou ídolos. Mesmo aqueles que dizem que não os têm, secretamente alimentam uma admiração profunda por algumas figuras especiais que de certa forma nos fascinam com suas ideias ou comportamentos. Eu também tenho os meus ídolos, mas não muitos. Um deles mora na minha casa, é meu avô e atende pelo nome de Antônio Onofre de Azevedo. Todos o chamam carinhosamente de "Seu" Toninho, mas eu chamo apenas de Vô. Após a morte do meu pai, há 26 anos, ele foi a figura masculina que eu tive como referência. E isso já é um grande passo para formar um ídolo.
Quando digo que meu avô é uma referência para mim, pode-se pensar que eu o considero um modelo de comportamento masculino, um ideal a ser atingido. Nada disso. Discordo radicalmente dele em diversos aspectos, sobretudo em relação as suas posições políticas. Sempre ficava indignado com a insistência dele, há alguns anos, em apoiar fielmente figuras suspeitíssimas da vida política de Nilo Peçanha. Apesar disso, nossas discordâncias nunca me fizeram desvalorizar o que faz dele uma figura especial para mim: meu avô é um exímio contador de causos. E um causo é algo ao qual não resisto. Desconfio de que resolvi me tornar historiador simplesmente por que adoro uma história bem contada, seja ela verossímel ou não. E o repertório de "Seu" Toninho é vasto: casos rocambolescos de lobisomens, mulas sem cabeça, visagens e fenômenos inexplicáveis, resenhas de porres homéricos com amigos, crônicas sexuais impublicáveis, memórias dos anos 40 e 50, et cetera. Mas, além de um bom narrador, ele é protagonista de muitos dos seus causos, o que atesta ou uma vida muitíssimo bem vivida ou uma imaginação prá lá de fértil. Não importa. Por isso, das histórias que envolvem meu avô, a que mais gosto não me foi contada por ele, mas por um filho seu, meu tio Zé, também ele um resenhista notório. O episódio foi mais ou menos assim:

Como de costume, após o fechamento do seu açougue aos sábados, fiel aos amigos e a caninha Jacaré, meu avô ficou ainda algum tempo no Mercado Municipal tomando uns goles. Depois de sair do mercado, já bastante alto, atravessou a rua e foi ao bar do meu tio Onofre, onde meu tio Zé, ainda adolescente, era atendente. Ao chegar, trôpego, sentou num banco, deu um leve tapa no balcão, virou-se para meu tio e disse:

- José, me traga um copo d’água...


Ao pegar o copo e começar a beber a água, meu avô foi se inclinando lentamente para trás, virando o copo e o corpo até que levou um tombo dos brabos, de costas. Depois de alguns segundos, passado o susto, ele se levantou, sentou de novo no banco, deu um tapão no balcão, virou-se para meu tio e disse, retado:

- Que porra, José!!!! Você não sabe que eu não posso beber água gelada???!!!


Foto: Arquivo pessoal.